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A coletânea Cartas aos pais se desdobra do encontro entre um grupo de homens constituído especialmente para estudar os entraves da masculinidade na nossa sociedade através do livro Além do herói, do psicanalista norte-americano Alan B. Chinen. Mesmo depois das três décadas que nos separam de seu lançamento, a obra nos pareceu um bom ponto de partida em função de alguns motivos fundamentais. Sua estrutura baseada na análise de histórias antigas,  cujos protagonistas são homens em crise, apresenta a jornada de superação dos paradigmas masculinos tradicionais não como uma receita, mas como um processo gradual feito de tarefas combinadas. Ao mesmo tempo, se empenha em recolher os aprendizados vivenciados ao longo dessa jornada, num esforço para compôr um repertório renovado de comportamento, capaz de nos orientar no processo de reconstrução.

Uma dessas tarefas primordiais (e o aprendizado que contém) está no centro de nossa coletânea: os relacionamentos que nós homens mantivemos e mantemos com os homens mais velhos (pais, tios, padrastos, professores, mentores), responsáveis por parte decisiva de nossa formação. Ora, o diagnóstico do psicanalista Alan B. Chinen sobre essas relações é tristemente acertado: "O patriarcado fere os jovens, forçando-os a curvar-se a autoridades masculinas, a competir com seus iguais e a desconfiar de seus filhos. Homens feridos tornam-se pais feridos, e criam mais uma geração de homens feridos".Seja de forma direta, quando ocupam um lugar de autoridade em nossas vidas e mostram-se incapazes de uma educação saudável, seja de maneira indireta, quando se ausentam de nosso convívio e produzem uma espécie de vazio afetivo na nossa subjetividade – em ambos os casos, referenciais problemáticos de masculino –, esses relacionamentos provocaram sérios machucados, sobre os quais precisamos falar.
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